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A estrutura militar pode ser vista pelos civis como pesada, mas fora de terra, num navio grande e ao mesmo tempo pequeno, saber quem manda e agir de acordo com o esperado é essencial para cumprir a faina com sucesso. Cria uma sensação de segurança, ainda mais importante quando quase só se pode contar com as pessoas que estão a bordo e o chão teima em fugir dos pés. Não será por acaso que uma tenente que segue na expedição às Selvagens confessa, sem qualquer embaraço: “hoje não seria capaz de viver sem regras. Ajudam a organizar-me”.
As horas da refeição são para cumprir (e o mar, quando se tem a sorte de não enjoar, abre o apetite). As normas de segurança são para seguir à risca (como por exemplo não fumar em determinadas zonas e/ou momentos). O comandante é para respeitar sempre (não nos devemos, por exemplo, sentar ou levantar da mesa sem primeiro perguntar: “o senhor comandante dá licença?”).
A viagem do porto do Funchal, na Madeira, às Selvagens ultrapassou as 24 horas. O navio “Almirante Gago Coutinho” demorou mais tempo que o Creoula porque foi parando para fazer medições de condutividade, temperatura e densidade da água do mar. Esses dados são recolhidos por uma sonda colocada na água e depois transferidos para um dos vários computadores a bordo. Serve, por exemplo, para perceber se a água do Mediterrâneo chega às Selvagens. E foi por causa de operações como esta que alguns cientistas não dormiram toda a noite e a expedição ainda mal começou.
Quando se avistaram as Selvagens passava pouco das seis da manhã, mas só às nove e vinte é que soou a informação nos altifalantes que tínhamos chegado ao primeiro destino da missão:“vamos dar início à manobra de embarcação”.
Os 14 elementos da equipa técnica (os investigadores) e os 34 marinheiros uniram-se então para começar uma tarefa que acabou por ocupar todo o dia: colocar comida, tendas, caixas com tubos de plástico e até uma casa de banho com papel higiénico num semi rígido e em dois botes para transportar até à Selvagem Pequena.
De forma irregular e com apenas 20 hectares de área, a Selvagem Pequena encanta logo à chegada. Não é qualquer embarcação que consegue aproximar-se da terra, uma vez que o fundo do mar está cheio de rochas vulcânicas que podem danificar os cascos mais baixos das que têm maior calado. Assim como se a ilha estivesse a dizer-nos: “venham, mas portem-se bem se não são castigados”.
Nunca foram introduzidos na ilha animais ou plantas. Existe apenas uma construção feita pelos homens. Uma cabana de madeira onde ficam os dois guias apenas durante o Verão. São substituídos de três em três semanas. Três semanas sem falar ao telefone, ler jornais ou estar com outras pessoas. Há electricidade através de painéis solares. É suficiente para alimentar uma televisão e um frigorífico, onde as minis, que ajudam a passar o tempo, se vão mantendo frescas.
Por estes dias, a quietude da Selvagem Pequena acordará para a ansiedade de 15 cientistas desejosos de descobrir e aprender. As aves marinhas, as osgas, as lagartixas, os escaravelhos e as borboletas vão talvez reparar noutros sons para além da voz do mar e talvez notem diferença na paisagem.
Na terra a que deram o nome de Selvagem Pequena, a rotina será quebrada e os dias ameaçam ser poucos para tudo o que se quer fazer, mesmo que às tantas todos perguntem: “que dia é hoje?”
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