O que é que mais desejam os 80 cientistas, envolvidos na expedição organizada pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), que se destribuem pelos navios “Almirante Gago Coutinho” e “Creoula” e pela Selvagem Pequena? A resposta é: descobrir.
Uns dedicam-se a observar as aves, outros a pesquisar a flora, outros analisam os sedimentos do fundo do mar, outros ainda estudam o genoma dos organismos que vão sendo encontrados.
A causa é comum: retratar a biodiversidade das Selvagens. No entanto, o que cada um deseja descobrir é tão diferente quão diversos são os investigadores e as áreas de investigação aqui reunidas. E é preciso ter cuidado quando se pergunta o que mais gostavam de encontrar, uma vez que a resposta, para quem não é especialista, pode dar azo a mal entendidos.
“Desculpe?”
Esti Berecibar, 35 anos, é bióloga e está ligada à EMEPC. Assentou arraiais no “Creoula”. É desse navio que, todos os dias, mergulha, ao largo das Selvagens.
Quando a encontrámos estava de pinça na mão a separar um ouriço do mar de uma alga vermelha. Um vai para um frasco. A outra para um saco de plástico.
Esti prontificou-se logo a explicar que o ouriço come o que encontra pela frente. E que a alga vermelha, dura e formada por pequenas bolinhas todas juntas, tem um crescimento lento. Aquela alga cabia na palma da mão, mas deveria ter mais de 50 anos. E agora ia viajar das profundezas do Atlântico para um laboratório em Lisboa.
Não falta entusiasmo, a Esti e a tantos outros quando falam sobre o que vão reunindo nesta expedição, mesmo quando os dias terminam sem que tenham conseguido encontrar o que mais anseiam. No caso desta investigadora basca a viver em Portugal há alguns anos, os olhos procuram um cavaco grande.
“- Desculpe, um quê?
- Um cavaco grande, também chamado lagosta da pedra”.
O cavaco grande é um crustáceo que habita os fundos rochosos e arenosos e que durante o dia refugia-se em concavidades ou grutas na rocha, só se deslocando à noite para procurar alimento enterrado na areia. Pode ultrapassar os 45 centímetros de comprimento. Tem uma carapaça robusta, castanha-avermelhada e mais ou menos quadrangular. Os conhecedores de marisco devem saber bem que animal é este, uma vez que é uma espécie muito apreciada na culinária madeirense. Mais difícil é encontrá-la no prato. Capturar um cavaco não é tarefa fácil, garantem os entendidos.
Esti adorava ter um na mesa improvisada do laboratório a bordo do “Creoula”, mas essa sorte acabaria por ficar para os investigadores na Selvagem Pequena, alguns dias depois. Um crustáceo que regressou ao mar assim que lhe foi retirada uma parte para análise.
“- A Esti quer encontrar um cavaco grande?! Para quem não sabe a que se refere pode até ser mal interpretado.
- Desculpe, mal interpretado? Porquê?”
E assim se encontram dois mundos: o dos cientistas e o dos jornalistas em pleno Oceano Atlântico.
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