Será possível aos 10 anos de idade estar completamente apaixonado pelo mar? Aos 12 decidir que quando for grande quer ser biólogo marinho? E aos 19 achar que mergulhar é muito mais interessante que continuar a descobrir o que existe à superfície, em terra?
Para Francisco Fernandes a resposta a estas três perguntas é só uma: sim, com um enorme ponto de exclamação no fim.
É certo que o rio Tejo o viu nascer, mas nada nem ninguém na família podia prever esta prematura e tão determinada entrega ao mar. Já menos surpreendente foi a decisão de estudar Biologia Marinha, na Universidade do Algarve.
Francisco Fernandes entrou no curso com média de 18 valores. Um bom aluno que vê em perigo a conclusão do primeiro ano, pelo menos por agora.
É que não se pode estar em dois locais ao mesmo tempo e Francisco passou a última semana ao largo das ilhas Selvagens, a acompanhar os trabalho de alguns dos cientistas envolvidos na missão organizada pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma continental.
Foi um dos três alunos de licenciatura a bordo da caravela Vera Cruz, uma das três embarcações que participam naquela que é a maior expedição científica portuguesa de sempre.
Para estar nas Selvagens, Francisco teve de faltar a alguns exames da faculdade, mas garante que não podia estar mais satisfeito.
Impressionou-se com a forma como tantos cientistas se organizam, por exemplo, para fazer dois mergulhos diários, ao longo de quase um mês. Adorou mergulhar e contribuir para o retrato da biodiversidade daquela zona. “É uma experiência que talvez não volte a repetir”, diz.
Francisco faz parte daquele grupo de jovens que respira vontade de crescer, mas lida mal com o ritmo da aprendizagem académica. Fala das algas e dos peixes como se tivesse nascido no meio deles.
“Eu fui feito para estar no mar”, confessa e lá lhe foge mais um sorriso transparente como a água salgada que tanto lhe alimenta os dias.
Está de regresso a Lisboa e a nossa breve conversa termina com uma frase pouco original, mas muito importante para todos os que, como Francisco, admiram o novo mundo: “sabemos mais da superfície da lua do que do fundo do mar”.
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