Três barcos levam 73 especialistas para estudar Selvagens e "ovo estelado"
Parte hoje, terça-feira, de Lisboa, a caravela "Vera Cruz", primeiro dos três barcos que servem de base à maior expedição científica portuguesa de sempre. O mar das Selvagens será observado a fundo e a rota de dois meses e meio inclui a pesquisa de segredos oceânicos dos Açores.
O "Vera cruz" toma avanço aos navios "Creoula" e "Gago Coutinho", que zarpam do Tejo ao pôr-do-sol na próxima quinta-feira, rumo ao Funchal. Dali, as três embarcações seguem para as Ilhas Selvagens, para a primeira fase daquela que é a maior expedição científica portuguesa até agora: 73 especialistas em diversas áreas. Quatro deles são espanhóis e dois vieram da Universidade de Berkeley, EUA. Estes últimos fizeram trabalhos idênticos no Oceano Pacífico e vêm cooperar ao abrigo de um protocolo com a Fundação para a Ciência e Tecnologia.
A coordenação deste cruzeiro oceanográfico, que se prolonga até meados de Agosto, está a cargo da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) que, no passado mês, entregou às Nações Unidas a fundamentação científica para o reconhecimento da soberania portuguesa sobre mais dois milhões de quilómetros quadrados de fundo marinho.
Vida selvagem
A operação científica tem a primeira fase nas Ilhas Selvagens e seus ilhéus (a 160 milhas do Funchal). Os trabalhos integram-se num projecto, o M@rBIS, comum com o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade. As equipas vão ali estudar o ambiente e espécies na zona emersa (visível), na faixa das marés, até aos 30 metros de água e, num alargamento progressivo, dos fundos e vida marinhos até aos dois mil metros. É aqui que intervém o "Luso", veículo submarino robotizado (ROV), capaz de recolher amostras e imagens até uma profundidade de seis mil metros. Tal capacidade de mergulho será aproveitada ao máximo quando a expedição rumar para os Açores.
A fase de exploração das Selvagens prolonga-se até ao próximo dia 28. Manuel Pinto de Abreu, que coordena a EMEPC, disse, ao JN, que, daquela zona, se sabe haver bastante biodiversidade e também "verdadeiros desertos". Os trabalhos vão também complementar dados recolhidos para a fundamentação da extensão da plataforma continental. O modelo geológico da zona ficará completo.
"Temos um conjunto de imagens de satélite e precisamos de verificar as coordenadas no local, para que tudo encaixe precisamente no sítio certo", explica Pinto de Abreu, para acrescentar que serão usados veículos autónomos submarinos (um dos quais da Faculdade de Engenharia do Porto) para recolher dados físicos da coluna de água, dados acústicos e imagens. Serão largados sistemas derivantes (drifters) para estudar as correntes. Algumas análises serão feitas de imediato, outras aguardarão laboratórios sofisticados.
Finda a missão nas Selvagens, ficará apenas o navio da Marinha "Gago Coutinho", que tomará, no início de Julho, o rumo do extremo Oeste da plataforma continental, muito além dos Açores. Aí a profundidade típica é de 3500 metros. O "Luso" irá espreitar também o que há quase um ano descobriu: o "ovo estrelado", misteriosa formação a 150 quilómetros de Ponta Delgada. Os cientistas da EMEPC estão ávidos por dados que permitam entender se essa cratera submarina com seis quilómetros de longo resultou do impacto de um meteorito ou é vulcão escondido pelas águas.
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