Entre 9 e 30 de Junho de 2010 mais de 50 cientistas e três navios estiveram envolvidos no estudo da flora e fauna marinhas das Ilhas Selvagens, desde a zona entre marés até mais de 2500 metros de profundidade. Elementos do Departamento de Ciência da Câmara Municipal do Funchal participaram nesta missão científica que a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) levou a cabo, com recurso aos navios, N.R.P. Almirante Gago Coutinho, N.R.P. Creoula e caravela “Vera Cruz” e com o ROV “Luso”, tendo como principal objectivo cartografar e inventariar a biodiversidade marinha daquelas ilhas, desde o litoral até às profundidades abissais, no ano em que se assinala o Ano Internacional da Biodiversidade.
Nesta missão participaram cerca de 70 investigadores e estudantes ligados às principais Universidades e Institutos de Investigação Portugueses. A Madeira esteve representada por elementos do Museu Municipal do Funchal (História Natural), Estação de Biologia Marinha do Funchal, Parque Natural da Madeira, Direcção de Serviços de Investigação das Pescas, Universidade da Madeira e Museu da Baleia, num total de 10 pessoas. Todos os dados recolhidos serão arquivados na base de dados M@rBis, cuja gestão está cometida à EMEPC e que visa congregar todos os dados possíveis relativos às áreas marinhas da Rede Natura 2000 em Portugal, compromisso que o País assumiu perante a Comissão Europeia. Esta missão, que contou com o apoio e o patrocínio do Governo Regional da Madeira, através da Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, foi a maior e mais interdisciplinar expedição científica que alguma vez se realizou às Ilhas Selvagens. Os dados recolhidos vão permitir ainda reforçar uma eventual candidatura das Ilhas Selvagens a Património Mundial da Humanidade.
No último sábado, um helicóptero EH101, transportou até às Selvagens o ministro Augusto Santos Silva, o chefe de Estado Maior da Força Aérea, Luís Araújo, o secretário de Estado da Defesa e dos Assuntos do Mar, Marcos Perestrello, o secretário regional dos Recursos Humanos, Brazão de Castro, o presidente da Câmara Municipal do Funchal, Miguel Albuquerque, e o vereador Pedro Calado.
No local foi descerrado um monumento no local, com a denominação “Vigilante na última fronteira mais a sul”.
Paulo Oliveira (director do Parque Natural da Madeira)
As Ilhas Selvagens foram a primeira área a ser classificada como Reserva em Portugal. O trabalho de conservação da Natureza desenvolvido desde então foi reconhecido oficialmente em 1992 com a atribuição do Diploma Europeu do Conselho da Europa para Áreas Protegidas, o qual tem sido renovado anualmente.
As Ilhas Selvagens, constituídas por três ilhas de origem vulcânica: Selvagem Grande, Selvagem Pequena e Ilhéu de Fora, apresentam ecossistemas representativos e importantes para a conservação in situ da biodiversidade no Mundo, em particular de espécies mundialmente vulneráveis. Este facto deve-se à conjugação de vários factores, nomeadamente localização geográfica, isolamento e condições de colonização muito difíceis.
As plantas estão perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas, muitas delas constituindo endemismos e relíquias. Nas rochas, os líquenes proliferam expandindo a sua beleza e, como exímios bioindicadores que são, testemunham a excelência da qualidade ambiental deste Sítio da Rede Natura 2000. Estas Ilhas apresentam a percentagem mais elevada de endemismos por unidade de superfície em toda a Região da Macaronésia, que compreende os arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde.
A vegetação da Selvagem Pequena e do Ilhéu de Fora é composta somente por espécies nativas e endémicas, sem quaisquer introduções. Estas duas Ilhas apresentam uma cobertura e um número surpreendente de espécies exclusivas, consistindo num Horto Botanicum em pleno Atlântico.
A Selvagem Grande apresenta igualmente um coberto vegetal peculiar e uma interessante flora com endemismos da Ilha, outros comuns às restantes Ilhas Selvagens e à Região da Macaronésia.
A fauna das Ilhas Selvagens caracteriza-se pela existência de uma riqueza que, actualmente, é única no mundo. Estas Ilhas são um santuário de nidificação de aves marinhas e estão classificadas como Important Bird Area (IBA), no âmbito da Bird Life International e Zona de Protecção Especial (ZPE), a nível comunitário, pertencendo à Rede Natura 2000. Devido à sua localização geográfica, apresentam uma sobreposição de espécies cujas áreas de distribuição estão localizadas a Norte e a Sul.
Deste modo, e devido ao bom estado de conservação dos habitats, as Ilhas Selvagens abrigam um número extremamente significativo de comunidades de aves marinhas, quer em variedade de espécies, quer em número de indivíduos.
Contudo, não é aqui que termina a sua contribuição para a biodiversidade mundial, em termos de fauna. Outras espécies de vertebrados e invertebrados também aqui só existem. A lagartixa e a osga das Selvagens são subespécies de vertebrados terrestres nativos que habitam estas pequenas ilhas.
A outro nível, o dos invertebrados, menos conspícuos e interessantes para um visitante ocasional, podemos encontrar um apreciável número de endemismos. Na classe dos insectos, os coleópteros e os lepidópteros assumem um papel muito especial de que um escaravelho, endémico do Ilhéu de Fora, e uma borboleta, endémica da Selvagem Pequena, são bons exemplos.
No ambiente marinho e costeiro surgem ecossistemas bem conservados, representativos desta área do Atlântico. Nestas Ilhas existe uma abundante presença de moluscos endémicos do Sul da Região da Macaronésia, que desapareceram noutras áreas, devido à intensa actividade humana. |
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