Diogo Gomes foi o descobridor oficial das Ilhas Selvagens, em 1438, mas segundo algumas fontes, na Antiguidade, já eram referenciadas duas Selvagens conhecidas pelos nomes de Heres e de Antoloba e, em registos de 1345, aparecem incluídas no grupo das treze Ilhas de Canárias.
Porquê Selvagens?
Segundo Gaspar Fructuoso ( In Saudades da Terra), assim foram chamadas “por serem hermas e desconversáveis assi de navegação como de gente, e com huns perigosos baixios, em distância de trinta léguas entre huma e outra, as quais pode ser que sejam do número das doze que, segundo o historiador João Barros, se dizem Canárias”.
Proprietários das Ilhas
As Selvagens foram incorporadas na Ordem de Cristo, durante o reinado de D. Manuel, tendo sido feitas concessões das Ilhas a fidalgos e guerreiros que se distinguiam nos feitos das conquistas e guerras na época do expansionismo português. Desde esta data passaram a pertencer ao Estado Português, estando sob a administração territorial da Região Autónoma da Madeira.
Presença humana…
Várias tentativas de colonização foram feitas, das quais ainda existem alguns vestígios na Selvagem Grande - muros de pedra, uma velha cisterna e respectivos canais – mas nunca foram colonizadas devido à inexistência de água e à inospicidade do local.
…e suas actividades
As Ilhas, desde cedo, foram exploradas para a recolha de Barrilha para ser utilizada na produção de soda e de Urzela, um líquen usado na tinturaria, que imprimia uma cor púrpura nos tecidos e papel, cujo comércio prosperou no século XVIII, tendo sido exportado para a Inglaterra e Flandres. Outras boas fontes de rendimento eram a pesca e salga do peixe, que era vendido na Ilha da Madeira, assim como a extracção de estrume resultante da acumulação de excrementos de Cagarra, usado na fertilização das terras agrícolas na Ilha mãe. No século XV foram introduzidos na Selvagem Grande cabras e coelhos que serviam de alimento às pessoas envolvidas nessas actividades. Segundo alguns relatos, de Agosto a Setembro, os proprietários das Ilhas exploravam a caça ao coelho, cuja carne salgavam e as peles eram secas para exportação.
A caça da Cagarra
A actividade mais lucrativa na história das Selvagens foi a caça das cagarras, ave marinha que nidifica nestas Ilhas. De Setembro a Outubro de cada ano, ou no fim da época de reprodução, eram organizadas expedições a estas ilhas com o intuito de capturar o máximo possível de juvenis. Os animais eram mortos e aproveitados para serem utilizados de várias formas: consumo humano, fabrico de colchões com as penas e outros fins. Estas actividades foram mantidas de uma forma controlada até se iniciar a utilização de barcos a motor, altura em que a colónia começou a mostrar fortes indícios de regressão. A última expedição às Ilhas Selvagens para a matança dos juvenis da cagarra, partiu do Funchal a 15 de Setembro de 1967.
Necessidade de proteger…
E foi com base na urgente necessidade de acabar com o declínio da população de cagarras e preservar aquelas Ilhas, possuidoras de valiosíssimo e inigualável património natural que foi criada a primeira reserva natural de Portugal! A 29 de Outubro de 1971 é reconhecida a importância das Ilhas Selvagens e do seu Património Natural levando-as à classificação de Reserva Natural Integral. Esta área protegida contempla toda a parte terrestre assim como a parte marinha envolvente até à batimétrica dos 200m de profundidade.
Trabalhos de investigação e monitorização
O estudo da flora das Ilhas Selvagens despertou o interesse de botânicos e naturalistas de todo o Mundo, como foi o caso do capelão e botânico inglês Richard Thomas Lowe que em 1869 publicou a primeira lista sistemática conhecida das plantas das Ilhas Selvagens, que foi actualizada e publicada, após 55 anos, por Carlos Azevedo de Menezes. Ao nível da fauna, os trabalhos começaram em 1963 com a nidificação de aves e em 1968, o notável naturalista Paul Alexander Zino, começou o primeiro trabalho de anilhagem de Cagarras, que teve continuidade até à presente data.
Para mais informação:
Menezes, D., Gouveia, L., Mateus, M., Domingues, M., Jardim, N., Oliveira, P. & Fontinha, S. (2004). As Ilhas Selvagens. Serviço do Parque Natural da Madeira.
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