29/Set/2007
Salvages - Ilhas Selvagens
in Blog "Madeira Gentes e Lugares", de José Lemos
http://madeira-gentes-lugares.blogspot.com/2007/09/ilhas-selvagens.html
Com a devida vénia ao autor pela cópia
Na carta de Dulcert de 1339, «a costa africana e algumas das ilhas Canárias já eram referenciadas e anotadas. As ilhas madeirenses só aparecem desenhadas em 1351, numa carta do chamado atlas Mediceo e logo a seguir numa carta atribuída aos irmãos Pizzigani, de 1367, numa folha do planisfério catalão de Abraão Cresques, de 1375 (conservada na Biblioteca Nacional de Paris), na carta de Pinelli, de 1390», e também na «carta de Solleri, de 1385, além de várias outras». Nestas, «verificam-se algumas modificações dos contornos e do posicionamento relativo das ilhas de carta para carta, e ligeiríssimas alterações na grafia das designações da Madeira conhecida por Lenyame, Lecname ou Legname e das Selvagens por Selvagens ou Salvages, estas pela primeira vez apontadas, na carta dos Pizzigani de 1367», segundo Luís de Albuquerque e Alberto Vieira - “O Arquipélago da Madeira no Século XV”. No ano 1489 na Carta Portulano do Cartógrafo Albino de Canepa, as Selvagens já eram uma “referência cartográfica” entre a Madeira e as Canárias, conforme se vê a figura abaixo colocada.
“Em certo dia, vindo eu, Diogo Gomes pela ultima vez da Guiné, ao meio das ilhas Canarias e a da Madeira, vi uma ilha e estive n’ella, chamada ilha Selvagem.
É estéril, ninguem habita ahi, nem tem arvores nem aguas correntes. As caravellas do senhor infante descobriram esta ilha e descendo em terra acharam muita urzella, que é uma herva que tinge os pannos de côr rubra, e acharam-na em grande abundancia.
Depois, alguns pediram ao senhor infante que lhes desse licença para irem alli com as suas caravellas e podessem transportar a urzelIa a Inglaterra e Flandres; onde tem grande valor.
O senhor infante deu-lhes licença, com a condição de lhe darem a quinta parte do lucro, o que fazem.
E o senhor infante mandou para alli caprideos que se reproduziram muito bem».
Diogo Gomes era moço da câmara do infante D. Henrique e foi também seu navegador. Numa navegação efectuada em 1456 esteve na embocadura do rio Grande (actual rio Geba, na Guiné) e terá, no regresso, subido o rio Gâmbia até Cantor, onde obteve as primeiras informações sobre as explorações mineiras no Senegal e Alto Níger e desembarcado nas ilhas orientais do Arquipélago de Cabo Verde.
Em 1459/60 voltou à Guiné e explorou a região do rio dos Barbacins. No regresso de uma destas viagens “poderá ter descoberto” as Ilhas Selvagens. A data oficial da “descoberta” das ilhas ainda parece que continua a ser um “enigma”. Na consulta a vários autores, as datas da mesma, não são concordantes (?). 1438, é a data mais referenciada. Contudo como já foi dito anteriormente, as Selvagens já constavam da cartografia trecentista.
Prosseguindo o opúsculo do Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento "As Selvagens (1906)", «encorporados na corôa os bens do Mestrado de Christo, no reinado de D. Manoel, fizeram os reis concessões dos terrenos da Ordem a muitos fidalgos de sua casa e esforçados guerreiros que se distinguiram nas luctas de além-mar.
No seculo XVI pertenciam estas ilhotas a uma família madeirense do titulo de Cayados.
Um dos seus descendentes, o cónego Manoel Ferreira Teixeira, doou-as por 1560, a sua sobrinha D. Filippa Cabral de Vasconcellos, casada com José Ferreira de Noronha Franco, dos morgados das Selvagens.
Quando em l863 foi posta em execução a lei da extincção dos morgados, alguns d’elles registaram officialmente os seus bens, tendo-se d’isso descurado o morgado Cabral de Noronha.
Em 1904, os seus herdeiros venderam-n’as por posse incontestada ao sr. Luiz da Rocha Machado, seu actual proprietario.»
"As Selvagens (1906)" do Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento é uma monografia das ilhas Selvagens, nela dando conhecimento da sua história, geografia geologia, paleo-oceanografia, fauna, flora e das suas lendas até o início do século XIX. A estes conteúdos, de igual forma, são descritos no “Elucidário Madeirense” e nas “Ilhas de Zargo”.
"(...) por serem hermas, e desconversáveis assi de navegação como de gente (...)"
Na «década de 1940, Luís Rocha Machado (que tinha herdado as ilhas do pai), passou a alugar as ilhas durante várias semanas a um grupo de pessoas que incluía Rufino de Menezes, o comandante Paços Gouveia e João Batata.
Todos os anos, na época em que as cagarras-bebés estavam gordas, o grupo ia até as ilhas para as apanhar. A ideia era extrair-lhes o óleo e guardar as penas e a carne para depois comercializar tudo.
Alexandre Zino - um grande apreciador de aves - acompanhava o processo. Um dia, vendo que os exploradores já começavam a perder o interesse pelas Selvagens, propôs ao grupo acabar com a matança. Procurou Luís Rocha Machado e conseguiu ficar como locatário das ilhas, proibindo a caça das cagarras.
Zino construiu nas Selvagens uma casa para estudar a vida das aves, tendo feito algumas descobertas curiosas, junto com dois investigadores do World Wildlife Fund (WWF). Zino teve sempre a intenção de tornar as ilhas una reserva natural, mas isso só aconteceu mais tarde, quando o Estado Português as adquiriu.
A aquisição das Selvagens pelo estado aconteceu no início dos anos 70 numa altura em que o World Wildlife Fund (WWF) manifestou o interesse pela compra das ilhas com objectivos científicos. Mas Luís Rocha Machado decidiu dar prioridade ao governo português.
Na cerimónia de aquisição estiveram presentes, o Governador da Madeira na altura, coronel Sobral, acompanhado do secretário de Estado do Tesouro, Costa André. Consta que foram vendidas por cerca de 1500 contos. Desde então as Selvagens pertencem ao Estado, tendo sido transformada em Reserva Natural.
As Selvagens, foram classificadas como Reserva «até à batimétrica dos 200 m», através do Decreto-lei n.º 458/71, de 29 de Outubro, dirigida directamente pelo Serviço de Reservas e Parques Naturais, em Lisboa.
O sub - arquipélago da Madeira
Geomorfologia
Geograficamente, as ilhas situam-se a cerca de 296 Km, a Sul da Madeira e a cerca de 150 Km a Norte de Canárias. Estão compreendidas entre os meridianos: 15º 56’ 15” W e 16° 03’ 05” W e os paralelos: 30° 01’ 35” N e 30° 09’ lO” N, (coordenadas geográficas: 30º 08' N 15º 54' W).
(Fotos)
Este grupo de ilhas e ilhéus e afloramentos rochosos constitui a parte imergida de um edifício vulcânico, pertencente ao “Hotspot de Canárias”, cuja base se encontra aproximadamente a 3.500 m (?) de profundidade e que se foram construindo com as sucessivas erupções submarinas naquela área do Atlântico, sendo “aplanadas” pela erosão e sedimentação marinha.
Na zona do planalto atinge o «seu maior comprimento de 2.000 m desde a Ponta do Risco até a Ponta de Leste, com a maior largura de 1.700 m da Ponta da Atalaia à Ponta Espinha e sobe a maior altura até cerca de 100 m. É completamente árida e desabrigada», segundo o autor das “Ilhas de Zargo”, e ainda mais refere, «que distinguem-se três costas nesta Ilha: a de leste, em forma de arco, alta (Pico dos Tornozelos) e de difícil ascensão, arenosa e rochosa; a costa de norte, rectilínea, também rochosa, alta e inclinada para o mar; a costa de oeste, alta, inacessível até o Pico da Atalaia, sendo mais suave e alcançável do lado da Ponta deste nome. Tem como ilhéus adjacentes o Palheiro da Terra e o Palheiro do Mar. O Palheiro da Terra, dista 850 m da Selvagem Grande a NW, e o Palheiro do Mar, situa-se a 1.500 m a WNW da Ponta do Risco e a 2.100 m a NW do Cabeço da Atalaia. No planalto, «o basalto das encostas é colunar».
A Selvagem Grande é a primeira Ilha que se emblema no horizonte, geralmente à distância de 24 milhas e até de mais, se o permitirem as condições atmosféricas. Desta também se pode observar o Pico de Teide em Tenerife. Tem um pequeno desembarcadouro situado na Baía das Cagarras onde se encontra a casa dos Vigilantes do Parque Natural da Madeira e de onde parte o acesso ao planalto.
A Selvagem Pequena ou Pitão Grande, com uma área aproximadamente 20 ha, «tem uma forma bastante irregular, mede 800 m de comprimento e 500 m de largura». As suas arribas são baixas e rodeadas de algumas praias de areia e calhau rolado. A sua linha da costa pode medir 2.600 m na preia-mar e 6.300 na baixa-mar», segundo o autor das “Ilhas de Zargo”. A SE do Pico do Veado, existe um fundeadouro.
O Ilhéu de Fora ou Pitão Pequeno, com uma área de cerca de 8 ha, «da qual só emergem 500 m de comprimento por 300 m de largura e coberta de areia», a sua superfície, também aumenta as suas dimensões na baixa-mar.
Em termos de relevo, todos os ilhéus das Selvagens são de pouca altitude, sendo os pontos mais elevados de cada um dos dois ilhéus principais, o Pico do Veado, na Selvagem Pequena ou Pitão Grande, com cerca de 49 metros e o Pitão Pequeno ou Ilhéu de Fora, com cerca de 18 metros.
A grande extensão deste planalto insular, para N e W mostra como são «violentos os mares destes quadrantes» e certamente, estas ilhas tinham no seu passado dimensões bastante maiores.
Pela situação geográfica e a condição de ilhas, as Selvagens sofrem a influência oceânica, “condicionadas” pelas correntes do Golfo e das Canárias, e pelos ventos alísios oriundos do quadrante Norte. O seu clima pode ser considerado tipo oceânico subtropical, como algumas zonas costeiras das ilhas de Canárias, (outros autores classificam-no de subtropical marítimo).
A baixa altitude, não favorece a condensação e as nuvens arrastadas pelos ventos, passam sem que haja precipitação. Ocasionalmente, são afectadas por tempestades que formam no Atlântico acompanhadas de ventos provenientes de Norte ou de Oeste, que provocam chuvas torrenciais acompanhadas de trovoada durante algumas horas.
Por vezes, os ventos de Leste e de Sul precedentes do continente africano carregados de poeiras e massas de ar quente recordam a proximidade do Deserto do Saara, aumentando as temperaturas e reduzindo a humidade do ar. As temperaturas rondam os 15 e 20 graus centígrados, no Inverno.
A presença de numerosas conchas de moluscos terrestres, segundo os especialistas, indicam que no passado o clima destas Ilhas foi mais húmido do que nos dias de hoje.
Cultivou-se também, na Selvagem Grande outras espécies vegetais com fins comerciais particularmente o sumagre (Rhus Coriaria) e opastel (Isatis Praecox). Presentemente encontra-se em fase de recuperação os seus endemismos, após a retirada desta flora exótica e dos herbívoros (Coelhos) e roedores (Mus barbarus e Mus musculus), introduzida no passado, intencionalmente os primeiros e os segundos acidentalmente.
A Selvagem Pequena ou Pitão Grande e o Ilhéu de Fora ou Pitão Pequeno, constituem habitats únicos, com os ecossistemas inalterados. Estas ilhas por serem inóspitas, não criaram condições de colonização por parte do homem e ao que parece nunca ocorreu a introdução de herbívoros.
A flora terrestre das Ilhas Selvagens, na sua generalidade é de porte rasteiro, e reveste-se de um grande interesse científico. Esta compreende «cerca de 105 plantas vasculares distintas, das quais 11 são endémicas destas ilhas. Alguns exemplos são: Scilla maderensis var. melliodora, Argyranthemun thalassophilum, Lobularia canariensis ssp. rosula-venti e Euphorbia anachoreta». Esta última espécie surge unicamente no Ilhéu de Fora, (fonte, Parque Natural da Madeira). A vegetação das Selvagens tem mais afinidade com as Canárias do que com a Madeira.
A fauna vertebrada é representada por «8 espécies pertencentes a 3 famílias: Procelariidae (5 espécies), Laridae (2 espécies) e Motacillidae (1 espécie)».
Nas Selvagens existe a «maior colónia de Cagarras Calonectris diomedea borealis do Mundo, com uma população recentemente estimada em cerca de 18.000 casais.»
A mais numerosa ave das Selvagens é «o Calcamar Pelagodroma marina, com uma população superior a 40.000 casais.
As outras aves marinhas são: Alma negra Bulweria bulwerii, Roque de Castro Oceanodroma castro e o Pintainho Puffinus assimilis Garajau comum Sterna hirundo e Gaivota de patas amarelas Larus cachinnans (estas duas anteriores, inferiores a 50 casais).
A única ave residente que pode ser encontrada durante todo o ano, é o Corre Caminhos Anthus bertheloti bertheloti, considerada uma sub-espécie com características iguais à espécie que se encontra nas Ilhas Canárias, mas é diferente da existente no Arquipélago da Madeira».
As outras espécies de vertebrados destas ilhas são a osga Tarentola boettgeri bishoffi e a lagartixa Lacerta duguessii, endemismos da Macaronésia.
Nestas ilhas existe um apreciável número de invertebrados endémicos, com uma elevada percentagem de insectos endémicos, sobretudo coleópteros e lepidópteros.
Por curiosidade, um coleóptero Deuchalion oceanicus (espécie deescaravelho), endémico do Ilhéu de Fora, vive unicamente associado à Euphorbia anachoreta, planta também endémica, (fonte, Parque Natural da Madeira).
Continuando o mesmo autor, «tomou tanto incremento o comércio de urzela no arquipélago madeirense que suscitou uma legislação especial, constituiu monopólio do Estado, foi empresa de contratadores e traficância de contrabandistas quando, por protecção à urzela de Cabo Verde, se desacreditou intencionalmente a da Madeira, depois de aceita e preferida em toda a Europa como a melhor no mercado; e proibiu-se a sua exportação com grande prejuízo dos Municípios». (…). «Nem a qualidade do produto, nem as providências dos Governadores resolveram o problema, porque o trabalho dos negros em Cabo Verde e a Descoberta das anilinas na Europa deram o golpe de morte na urzela da Madeira retirando a importância comercial da também colhida nas Selvagens».
O ornitólogo Padre Ernesto Schmitz (1845-1922) escreveu, segundo o autor das Ilhas de Zargo, que apesar de «serem caçadas anualmente umas 20 a 22.000, a população não diminui, o que prova a sua grande densidade. Devem, portanto, exceder o total de 60.000, porque cada Cagarra põe apenas um ovo por ano, e é necessário haver pelo menos 40.000 para uma reprodução anual de 20.000. Em parte alguma do mundo existe tamanho número de Cagarras».
O Elucidário Madeirense refere que à Cagarra, «fazem-lhe caça em todas as ilhas, mas principalmente nas Desertas e Selvagens que a captura se torna rendosa, (…) pelo numero de indivíduos novos caçados anualmente nas Selvagens por homens de S. Gonçalo e Caniço, que ali vão nesse especial propósito. A cagarra, depois de salgada, trazida para a Madeira, onde a vendem de preferência às classes pobres, que muito a apreciam, a pesar do acentuado ressaibo a peixe e do caracter oleoso da sua carne. Os caçadores das Selvagens também lhe chamam pardela, à semelhança dos espanhóis das Canárias».
Para além da caça feita a esta ave, Luís da Rocha Machado, filho do antigo proprietário das Selvagens, concedeu em 1939, à firma industrial Leacock & C.º, sedeada no Funchal, a exploração de adubo de cagarra, abundante na Selvagem Grande, para fabricação de guano.
Assim, o mesmo autor refere que «em Agosto de 1963 a bordo do baleeiro Persistência, uma digressão de cientistas europeus (...), foi explorar as Selvagens apoiado pela Imperial Chimical Industries de Londres e com o auxílio da Câmara Municipal do Funchal.
«Participaram nesta missão representantes do Museu Nacional de História Natural de Paris, do Centro Nacional de Vulcanologia de Bruxelas, do Museu Britânico de Londres e do Instituto Zoológico da Universidade de Giessen. Transportaram-se às Selvagens estes cientistas de renome, feito no mundo: Marjorie Pickering, botânico; Thomas Tams, ornitólogo; Joseph Honorez, geólogo; Dr. Meinel, biólogo; Erick Weinreick e Gunther Maul, ictiólogos. Este último, sobejamente conhecedor da vida marina das águas madeirenses, cientista de nome feito por estudos e descobertas, é geralmente o condutor-apoio das missões que aportam ao Funchal e o criador doMuseu Municipal do Funchal ».
No período de mudança de regime político em Portugal (1974/75), as Selvagens foram também “alvo desta época revolucionária” da história do País, não sendo imunes aos "excessos" próprios deste período. Assim, populares "conhecedores das ilhas" em embarcações de pesca desembarcaram na Selvagem Grande e destruíram as casas existentes. Estes, alegando chavões políticos relacionados com o direito à propriedade, exigiam a liberdade da apanha das cagarras, não licenciada nem autorizada por força da lei da Reserva Natural, foram impedidos pela acção de Paul Alexander Zino e dos guardas que este tinha contratado na altura.
Com o processo autonómico as Ilhas Selvagens passaram a ser geridas pelos órgãos de governo próprio da Região Autónoma da Madeira. Assim, em 1977 é construída uma casa de abrigo para os vigias do Parque Natural, os quais entram em funções nessa altura. Refere-se que o Parque Natural foi dirigido directamente pelo Serviço de Reservas e Parques Naturais, em Lisboa, até à constituição da Direcção Regional dos Parques Naturais da Madeira.
Em 1978 a Assembleia Regional da Madeira aprovou o DecretoRegional n.º 15/78/M, de 10 de Março, que foi alterado pelo Decreto Regional n.º 11/81/M de 15 de Maio, a qual definiu as Ilhas Selvagens “Reserva Natural”, não só o território destas, como também fundos marinhos até à batimétrica dos 200 metros, com as seguintes proibições:
1) A realização de quaisquer trabalhos, obras ou actividades profissionais sem autorização do Governo Regional;
2) A utilização de fundeadouros fora das zonas especialmente destinadas a esse fim;
3) O acesso de pessoas, excepto mediante autorização do Governo Regional, que a concederá apenas para fins de estudo, de resolução de problemas técnicos ou a visitantes acompanhados por pessoas devidamente credenciadas, ou em estado de necessidade;
4) A introdução de veículos terrestres, excepto mediante autorização do Governo Regional;
5) O sobrevoo por aeronaves a altitude inferior a 200 metros, excepto em operações aéreas necessárias ao funcionamento da reserva ou em estado de necessidade;
6) A introdução de espécies animais ou vegetais terrestres, a colheita, captura ou perturbações dos existentes, bem como a apanha de espécies vegetais marinhas, exceptuados os casos regularmente previstos;
7) A colheita de material geológico ou arqueológico ou a sua exploração sem autorização do Governo Regional;
8) A pesca de arrasto e outras artes que colidam com o fundo até à batimétrica fixada pela reserva, ressalvando-se as artes de anzol e rede;
9) A utilização para fins comerciais de aparelhos de fotografia, filmagem e radiodifusão sonora ou visual sem autorização do Governo Regional.
Por proposta da Região Autónoma da Madeira no âmbito da Directiva Habitats, (Resolução n.º 1408/2000, de 28 de Setembro, do Governo Regional da Madeira), as ilhas Selvagens passaram a integrar a Rede Europeia de Áreas Protegidas, denominada “Natura 2000”. Esta redeeuropeia de sítios protegidos, resulta da aplicação de duas directivas Comunidade Europeia: a Directiva Aves (Directiva 79/409/CEE), que protege todas as espécies de aves selvagens do território comunitário e a conservação dos seus habitates, através da criação de Zonas de Protecção Especial (ZPEs) e a Directiva Habitates (Directiva 92/43/CEE), que tem em vista a protecção das espécies de fauna e flora, que não são abrangidas pela directiva anterior, através da criação de Zonas Especiais de Conservação (ZECs). Por outro lado, a Rede Natura 2000 «pretende proteger as espécies e habitates naturais ameaçados da Europa e conduzi-los para um bom estado de conservação». Assim, competiu a cada Estado membro elaborar uma Lista Nacional de Sítios (Portaria n.º 829/2007, de 1 de Agosto), para integração na RN2000. Estes Sítios de Importância Comunitária, que integram esta rede, foram aprovados pela Comissão (Decisão n.º 2002/11/CE), a 28 de Dezembro de 2001, nos termos daDirectiva 92/43/CEE do Conselho Europeu, cujo anexo I identifica nas ilhas Selvagens vários habitats:
- Bancos de areia permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda;
- Lodaçais e areias a descoberto na maré baixa;
- Enseadas e baías pouco profundas;
- Falésias com flora endémica das costas macaronésicas;
- Formações baixas de euforbiáceas junto a falésias.
-Internacional: ZPE Ilhas Selvagens; SIC Ilhas Selvagens (PTSEL0001). Diploma Europeu de Áreas Protegidas do Concelho da Europa.
Em 2002 foi iniciado um projecto com vista a erradicação de todas as espécies introduzidas na Selvagem Grande numa tentativa de recuperação ao seu “habitat natural”.
A fiscalização e apoio à Reserva Natural das Ilhas Selvagens é prestado pela Marinha de Guerra Portuguesa a qual é de referir que os serviços prestados à Região Autónoma em geral, e as Selvagens em particular, têm sido relevantes e meritórios. Com o apoio do Navio da Marinha, os Vigilantes do Parque Natural, são substituídos de 2 em 2 semanas.
As Ilhas Selvagens, pela sua localização ( aproximadamente até ao Paralelo dos 29 Graus e 15 Minutos Norte, confinante com a ZEE do Arquipélago das Canárias), assumem particular importância para a Região Autónoma da Madeira assim como para Portugal (!). Estas embora sendo um sub-arquipélago diminuto, permite o aumentosignificativo da Zona Económica Exclusiva Portuguesa e assim acréscimo das possibilidades de exploração de recursos marinhos (pesca) ou não marinhos que ainda não são conhecidos (?).
O território e o espaço comum, já no passado da sociedade humana de colectores/caçadores, eram demarcados e defendidos. Assim tanto nesse passado com nos dias de hoje este procedimento é semelhante e natural, como a própria essência do “existir” e do “ser”!
Segundo o Comandante Teixeira de Aguilar, na sua obra “Faróis da Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens”, esta questão da segurança marítima e necessidade de construir um Farol nas Selvagens partiu por iniciativa do «país vizinho, em 1881, propondo que Portugal arcasse com metade das despesas decorrentes», e mais referia o texto que «dos antecedentes que existe no Ministério do Estado em Madrid, deduz-se claramente que não está determinado se a soberania da ilha pertence a Espanha ou a Portugal».
Pelo ano de 1887, o ministro de Estado de Espanha declarou concordar com a proposta do Governo Português e a 6 de Outubro de 1911 emanou outra resposta, dando conta que as «ilhas se consideram para todos os efeitos como compreendidas entre o arquipélago canário, portanto, a Chefia de Obras Públicas das Canárias e a do Serviço Central de Sinais Marítimos providenciarão de comum acordo a localização do farol».
A reacção do Governo Português não se fez esperar, pela «manifesta confusão» do Governo de Espanha, e em resposta, Lisboa ouviu de Madrid que estavam «dispostos a tratar da questão das ilhas nos mais amigáveis termos».
Em 1912, comunicava o ministro espanhol que seria tratada esta questão, reivindicando os direitos daquele país.
A construção do farol ficou suspensa por falta de diálogo. Mas o curioso, é que, foram dadas instruções ao ministro da Marinha para «nada se praticar de definitivo com respeito á aquela farolagem enquanto se encontrar pendente a discussão entre os dois países sobre a propriedade das ilhas». Ou seja, «deduz-se que haveria dúvidas, mesmo ao nível governamental» por parte de Portugal, sobre a soberania das Selvagens. (Referência-Jornal da Madeira, 14 de Outubro de 2001)
A Comissão Permanente de Direito Marítimo Internacional atestou a soberania das ilhas em 1938 e foi colocado no planalto da Selvagem Grande, um marco Astronómico pela Missão Hidrográfica das Ilhas Adjacentes, neste mesmo ano. Esta Comissão de Direito Marítimo Internacional foi criada em 2 de Abril de 1924, «com objectivos da maior relevância no domínio do direito internacional marítimo e, em especial, com a vantagem de assegurar, por meio dela, a presença portuguesa no Comité Maritime International, com sede em Bruxelas, e ainda como meio propulsor em matéria legislativa relacionada com a actualização do direito marítimo interno».
Na década de setenta do século anterior deu-se naufrágios de navios junto às Selvagens por falta de “farolagem” destas ilhas. A responsabilidade de Portugal pela segurança marítima daquela área, foi posta em causa.
A 6 de Junho de 1977 foi instalado o farol na Selvagem Grande (no cimo do Pico da Atalaia, Lat. 30º 08’.60 N, e Long. 15º52’.18 W) e a 17 do mesmo mês, o da Pequena (no cimo do Pico do Veado, Lat. 30º 02'.04 N e Long. 16º 01’.56 W).
A instalação foi efectuada pela Direcção de Faróis da Marinha, que presentemente é um organismo da Direcção-Geral da Autoridade Marítima, integrado no Ministério da Defesa Nacional.
A questão da soberania das Ilhas Selvagens foi sempre alvo de dúvidas (?), que actualmente, certamente estarão ultrapassadas pelo respeito mútuo e pelo direito internacional.
“Uma Notícia Curiosa”
«AVISO. La persona a quien acomode comprar las dos Islas llamadas Salvajes que pertenecen en propiedad libre a la familia portuguesa y casa de Cabral en la Isla de la Madera, puede dirigirse al Presbítero D. Miguel Cabral de Noroña, Capellan de Ejercito, residente en la Ciudad de La Laguna Capital de Tenerife, que este dirá con quién ha de tratarse, y en que terminos», (sic).
Fonte, Madeira y Azores en los Primeros Periodicos Canarios (1750-1850), Juan José Laforet. Real Sociedad Económica de Amigos del País de Las Palmas.
O Tesouro do Pirata Kid, o Temerário
O único sobrevivente expirou nas Canárias, revelando à hora da morte, a um marinheiro inglês, o segredo de que fora testemunha e também agente. O inglês, como bom patriota, não se conteve, ao regressar a Londres, de comunicar o facto ao Departamento da Marinha. Desde então sucederam-se as pesquisas nas Selvagens que foram cavadas e revolvidas pelos Morgados, seus primitivos donos, e por inúmeros argonautas e aventureiros. A. Mellersh, comandante da corveta inglesa “Rattler”, por exemplo, esteve quatro vezes nas Selvagens, nos anos de 1848 a 1851, à procura do velo de ouro tão cobiçado, em cuja empresa gastou umas 3.000 libras esterlinas. O próprio Almirantado inglês participou nesta tentativa, mandando a corveta “Myrmidow” fornecer água aos exploradores. O insucesso levou Mellersh a escrever ao cônsul britânico no Funchal, a 22 de Novembro de 1851, que ‘têm sido feitas escavações em ambas as Ilhas (Pitão Grande e P. Pequeno), e acho poucas probabilidades de encontrar o tesouro, não obstante crer bem que ele esteja aqui enterrado.
Com a certeza desta realidade passou na Madeira, em 1923, o explorador inglês Sir Ernest Shakleton que, dirigindo-se ao Polo Sul, procurou, no Funchal, Luís da Rocha Machado, proprietário das Selvagens, a quem pediu autorização para pesquisar aquelas Ilhas, no regresso da sua viagem polar, dizendo-se portador de dados descobertos no Ministério da Marinha relativos ao tesouro de Kidd. A morte surpreendeu Shakeiton em viagem, e o tesouro continuou sepultado no fundo pitoresco da lenda ou da esperança duma ilusória realidade».
Outros exploradores, nacionais e estrangeiros, têm demandado as Selvagens com igual fito e trazido de lá a mesma decepção.»
In Ilhas de Zargo
O tesouro ainda continua nas Selvagens!?
e
Selvagem Pequena
9000-900 FUNCHAL
Selvagem Grande
9000-900 FUNCHAL
Elucidário Madeirense, Padre Fernandes Augusto da Silva e Carlos Azevedo; Ilhas de Zargo de Eduardo C. N. Pereira, 4ª Edição-1989; Ilhas de Zargo-Adenda de Ângela Borges Gonçalves e Rui Sotero Nunes; Instituto Hidrográfico; Boletim do Instituto Hidrográfico N.º 75, Jan/Fev 2003; Flora Endémica da Madeira-Roberto Jardim e David Francisco; A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira-Parque Natural da Madeira-Paulo Oliveira; Oferta Turística e Relação Turismo – Ambiente na Região Autónoma da Madeira - (Localização geográfica do Arquipélago da Madeira - página 31) - Ana Mafalda Amador Garcia da Fonseca, Funchal, 2006-Universidade da Madeira); fotos, José Santos.
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